Por Fernando Menchini
O preço da inovação na era digital para os negócios antigos
Muitas empresas com as quais nos relacionamos atualmente nasceram na era da rápida inovação tecnológica: têm os negócios baseados em aplicativos, processos eficientes, baixo custo de operação, dão respostas rápidas e conseguem entender o comportamento dos clientes e, além disso, adaptam-se com grande agilidade as suas necessidades. Os empreendimentos – em alguns casos, chamados de “start-ups” – focados em serviço são os que mais se destacam e nem nos damos conta do quão comum é pedirmos comida, táxi, reservarmos hotel e até adquirirmos cartão de crédito com apenas alguns clicks.
Mas nem só de novidades é feito o nosso dia a dia. Ainda mantemos contato muito próximo com empresas que, mesmo tentando se encaixar nesse mundo, possuem um custo alto de operação e convivem com tecnologias antigas, as quais não podem ser simplesmente desligadas ou substituídas.
Um exemplo são as empresas do mercado financeiro, que, embora conviva com um legado, têm outra característica marcante: a capacidade de investimento para inovar.
O nosso sistema bancário é um dos mais desenvolvidos do mundo e acompanha, como poucos, o comportamento da nova geração da tecnologia. São inúmeras aplicações móveis, uma ampla gama de serviços e formas de atendimento diferenciadas que melhoram a experiência e até fidelizam os clientes. Essa capacidade pode ser identificada facilmente, ou você não realizou nenhuma transação hoje por meio do seu aplicativo móvel ou internet banking?
Por quanto tempo isso será novidade? Sabemos que inovar de maneira cada vez mais ágil é preciso, mas, garantir a segurança e a estabilidade dos serviços prestados também. Por essa razão, o cuidado com o ambiente antigo é fundamental. Os bancos possuem um grande sistema legado, softwares robustos que suportam suas transações; são verdadeiras espinhas dorsais do negócio e qualquer nova aplicação impacta diretamente em sua operação.
Mesmo com o crescimento brutal dos aplicativos, ainda não vimos todo o potencial que esses serviços podem nos oferecer. Isso pode gerar ameaças para as grandes instituições. Qual será o posicionamento delas? Hoje, há casos em que – apesar de todo o investimento em tecnologia – as decisões dessas instituições financeiras são tomadas tendo como base políticas padronizadas, aplicadas igualmente a todos os clientes. Essa prática parece espantosa se considerarmos que o avanço tecnológico possibilita justamente o contrário: que essas instituições bancárias tenham acesso, por meio de redes sociais ou dentro dos próprios bancos de dados, ao comportamento de consumo dos clientes, para, assim, ofertar produtos de maneira mais personalizada. Este paradoxo ocorre justamente pela falta de capacidade de uma rápida adaptação e ausência de mecanismos que dêem visibilidade ao impacto dessas inovações nas tecnologias do banco.
A fim de evitar problemas gerados por esse impacto e interrupções dos serviços, é preciso, antes de qualquer coisa, ter visibilidade total desse universo. A nova aplicação precisa integrar-se perfeitamente – e com rapidez – às já existentes. Mais do que isso, ela precisa ser desenvolvida tendo em vista a plataforma na qual será implantada, sobre quais operações atuará, quais clientes atingirá e qual diferencial imprimirá ao negócio. Todas essas pontas precisam estar muito bem amarradas para o investimento em um novo aplicativo ou funcionalidade fazer sentido.
Ótimas aplicações podem ser desenvolvidas de forma muito rápida, entretanto nem sempre elas são introduzidas adequadamente em um ambiente complexo ou pensadas considerando processos inovadores e criativos. Quando qualquer problema derruba um sistema bancário, por exemplo, ele deixa de realizar transações e gera perdas financeiras significativas que, nem sempre são consideradas. Por isso, a clareza e conhecimento do ambiente são fundamentais para o CIO conseguir uma perfeita harmonia entre a inovação atual, a que está chegando, o legado que continuará existindo e até o potencial de substituição deste legado que resultar em reduções significativas de custo e risco.
Sabe-se dos vários riscos inerentes à inovação, mas assim como uma construção não resiste sem um bom alicerce, um sistema legado precisa de uma arquitetura bem estabelecida com transparência e preparo para suportar o novo. Esse é o ponto de partida para o sucesso de qualquer tecnologia que vise modernizar e trazer vantagens competitivas às organizações.
Fernando Menchini: é pós-graduado em Gestão de Projetos de TI e MBA em Controles Internos. Professor da disciplina de padronização e normatização de processos no MBA de Controles Internos da FIPECAFI. Profissional certificado ARIS (Architecture Information System) e especialista em Enterprise BPM tem experiência de 11 anos em projetos de Consultoria em análise e formulação de propostas de melhorias de Processos